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Abelhas entendem o conceito de “zero”

Em um experimento engenhoso, cientistas provam que a abelha considerara o zero como um número menor que um – e não só como um lugar vazio no espaço

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
17 ago 2017, 13h39

Abelhas são capazes de entender o número zero – e essa é uma descoberta mais importante do que parece.

Afinal, o zero é a representação numérica do nada. É fácil entender que duas maçãs são uma quantidade maior que uma maçã. Mas não é tão fácil assim entender que um ponto vazio no espaço é uma quantidade menor que uma maçã só. Tirar essa conclusão exige um grau de abstração que só havia sido verificado antes em um número limitado de animais – como alguns pássaros, macacos e humanos, todos com cérebros bem maiores que o de um inseto.

Os testes foram feitos pela equipe da cientista Scarlett Howard, da Universidade RMIT, na Austrália, e seguem o mesmo princípio do exemplo da maçã acima.

Na primeira etapa, um grupo de abelhas pode escolher entre duas plataformas com alimento. Uma continha um líquido açucarado. A outra, um líquido amargo preparado com quinino – a substância que dá gosto à água tônica, que é odiada pelas abelhas.

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Essas plataformas eram identificadas por símbolos. As que forneciam a bebida amarga possuíam mais símbolos (4 no máximo, já que as abelhas conseguem contar só até aí), com a intenção de associar a experiência ruim a quantidades maiores. As que forneciam a bebida doce, por sua vez, possuíam menos símbolos (1 só) – forçando as abelhas a associarem quantidades menores a uma refeição mais gostosa.

Aconteceu o óbvio: depois de um tempo de treinamento, em 80% dos casos elas passaram a ir direto para as plataformas docinhas, com um símbolo só.

Feito o condicionamento, elas foram expostas a uma situação parecida, com a diferença de que não havia comida disponível. Pela primeira vez desde o início do estudo, algumas plataformas não tinham símbolo nenhum – outras mantiveram os dois ou três habituais. Foi tiro e queda: traumatizados com a comida ruim, os insetos optaram por pousar na superfície que tinha zero símbolos na grande maioria das vezes. Isso significa que a ausência foi interpretada como um número menor do que 2 ou 3, e não como um simples vazio.

Para confirmar que o zero é mesmo interpretado como um ponto a parte na reta numérica, os cientistas fizeram um teste um pouco diferente: deram a elas a oportunidade de pousar em um conjunto de plataformas que continham algo entre zero e seis símbolos. Elas negaram prontamente a que tinha seis, mas ficaram em dúvida entre a um e a zero – sinal de que ambos são encarados como números próximos um do outro no cérebro dos bichinhos.

Essa é só mais uma da já longa lista de habilidades especiais das abelhas, que inclui usar ferramentas e demonstrar emoções. Ninguém sabe exatamente porque elas desenvolveram comportamentos análogos aos de animais mais complexos, mas é provável que isso tenha relação com a vida em comunidade que levam na colmeia – onde comunicação é uma habilidade essencial. A pesquisa foi apresentada em um congresso em Estoril, Portugal.

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