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A invasão dos robôs

Missões não tripuladas tiveram de abrir caminho para a Lua, mapeando o solo e garantindo que nada que pousasse lá afundaria.

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 8 ago 2019, 16h05 - Publicado em 18 jul 2019, 17h05

Uma boa medida da temeridade que foi anunciar, em 1961, um projeto de levar gente à superfície da Lua é que praticamente tudo que cercava a viabilidade da empreitada era desconhecido na época. Poderiam astronautas lidar com a ausência de peso por vários dias durante a jornada? Seria possível tolerar o ambiente de radiação interplanetária sem ficar doente? O desconhecido era tão grande que não se sabia sequer se era mesmo possível pousar na Lua e onde o terreno seria mais favorável para uma tentativa.

Até então, a melhor forma de fazer reconhecimento do solo lunar era por telescópios, que só permitiam enxergar “detalhes” com pelo menos 300 metros de comprimento. Para pousar uma nave de poucos metros, essa resolução era essencialmente inútil. Além disso, não se sabia sequer a consistência do solo lunar. Havia quem pensasse que qualquer coisa que pousasse na Lua poderia simplesmente afundar, como se estivesse sobre areia movediça.

Seria preciso, portanto, determinar que condições seriam encontradas por lá antes de colocar humanos a caminho da superfície. E quem começou na frente foi, para variar, a União Soviética. A primeira sonda não tripulada de sucesso a ser enviada para lá foi a Luna 2, que colidiu com o satélite natural em 14 de setembro de 1959. (Pois é, naquela época colidir já era considerado sucesso.) Em seguida, veio a Luna 3, a primeira a fotografar o lado afastado da Lua, em 7 de outubro de 1959.

A imagem não era grande coisa, mas impressionava por ser a primeira vez que a humanidade tinha a chance de ver a metade da Lua que está sempre de costas para a Terra. Como nosso satélite natural tem rotação e translação sincronizados, vemos sempre a mesma face dele daqui. A Luna 3 revelou que a face oculta era bem diferente, mais marcada por crateras e quase totalmente desprovida de “mares”, as regiões mais planas e escuras que podemos ver até mesmo a olho nu no lado próximo.

Os soviéticos tiveram grande sucesso com suas missões não tripuladas, chegando a pilotar dois jipinhos na Lua.

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Entre os americanos, o primeiro programa lunar não tripulado foi o Ranger, conduzido pelo JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa. O objetivo era basicamente viajar na direção da Lua e ir tirando fotos, até trombar com ela. Com a determinação de Kennedy de levar humanos ao solo lunar, seu principal objetivo se tornou fazer imagens mais próximas de potenciais locais de pouso. Contudo, a primeira missão a enviar fotos desse tipo foi a Ranger 7, que bateu na Lua em 31 de julho de 1964.

Esse contraste fazia parecer que os soviéticos estavam muito à frente. Mas o truque aí é que, do lado de lá da Cortina de Ferro, só eram anunciadas publicamente missões que tivessem algum sucesso. Antes da Luna 1 (que voou com sucesso, mas errou a Lua), os soviéticos haviam feito três tentativas que terminaram em falha no lançamento. Depois do sucesso da Luna 3, houve 13 fracassos (mas só cinco números) até a Luna 9, que em 3 de fevereiro de 1966 se tornou a primeira nave da história a pousar suavemente na Lua. Em seguida, em 31 de março de 1966, a Luna 10 se tornaria o primeiro satélite artificial lunar.

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A Terra vista da Lua pela sonda Lunar Orbiter 1, em versão original e reprocessada digitalmente. (Divulgação/NASA)
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Os americanos, a essa altura, já estavam nos calcanhares dos russos. A Surveyor 1 alunissou com sucesso em 2 de junho de 1966, na primeira de uma série de sete missões (das quais cinco foram bem-sucedidas). Chamou especial atenção a Surveyor 6, que em 10 de novembro de 1967 realizou a primeira decolagem na Lua – um salto de poucos metros –, outro processo fundamental se as missões tripuladas não quisessem acabar em tragédia.

Por outro lado, a Nasa tinha também o programa Lunar Orbiter, com cinco espaçonaves que, entre 1966 e 1967, mapearam 99% da superfície lunar com resolução de 1 metro, permitindo assim a escolha de locais de pouso ideais para as missões Apollo.

Os soviéticos prosseguiram com suas missões não tripuladas Luna até 1976, realizando coletas de amostras de solo (reenviadas de volta à Terra) e perambulando pela superfície com dois jipes robóticos, Lunokhod 1 e 2. Mas, fora isso, passaram as décadas seguintes fingindo que jamais haviam tentado enviar seus cosmonautas à Lua e que, portanto, os americanos travaram uma corrida contra ninguém. Nada, contudo, poderia estar mais longe da verdade.

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