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80% das árvores endêmicas da Mata Atlântica estão em risco de extinção

Um estudo de dimensão inédita descobriu que até árvores famosas, como o palmito-juçara e a araucária, sofreram reduções maiores que 50% em suas populações.

Por Caio César Pereira
17 jan 2024, 18h47

Você já deve ter esbarrado com aquele mapa que mostra o quão pouco resta da cobertura original da Mata Atlântica. Os 25%  de floresta que sobrevivem até hoje, entretanto, ainda guardam uma das maiores biodiversidades do mundo. 

Só aqui no Brasil, 35% de todas as espécies vegetais se encontram por lá, e várias delas não existem em mais nenhum outro lugar no planeta (o que a gente chama de espécies endêmicas). Infelizmente, entretanto, boa parte delas se encontra em risco de desaparecer.

O principal problema é que a Mata Atlântica fica no pedaço mais urbanizada do Brasil. 80% da população brasileira vive em regiões onde impera esse bioma. Os altos índices de desmatamento e degradação colocam a recuperação e preservação da floresta em risco.

Uma pesquisa publicada no periódico especializado Science no último dia 11 revela que, das 2 mil espécies de árvores endêmicas da região, pelo menos 80% estão em risco de extinção, e 13 delas possivelmente já estão extintas.

Contando o número total de espécies de árvores do bioma (ou seja, considerando também as que não são exclusivas da Mata Atlântica), conclui-se que 65% estão com suas populações ameaçadas.

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É a primeira vez que um levantamento desse tipo é realizado na região, com os pesquisadores utilizando dados de mais de 3 milhões de registros de atividade de herbívoros e inventários florestais.

A pesquisa analisou dois terços das quase 5 mil espécies presentes na floresta, utilizando os critérios da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), a principal referência do mundo no estudo de espécies ameaçadas de extinção.

A chamada Lista Vermelha da IUCN classifica desde 1964 o estado de conservação de espécies animais e vegetais. A escla vai do considerado “pouco preocupante” (LC) até o “extinto” (EX). A categoria intermediária de “ameaçados” é dividida entre “vulnerável” (VU), “em perigo” (EN), e “criticamente em perigo” (CR).

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Das espécies avaliadas no estudo, pelo menos 75% estão classificadas como “em perigo”. Entre elas, se encontram árvores como a araucária (Araucaria angustifolia) e o palmito-juçara (Euterpe edulis), que tiveram um declínio de 50% em suas populações.

Uma das árvores mais famosas do país também se encontra em risco. O Pau Brasil (Paubrasilia echinata), árvore que dá nome ao país, está “criticamente ameaçada”, já que 84% de sua população selvagem diminuiu.

Para Renato Lima, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), e um dos autores do estudo, o número de espécies ameaçadas pode ser ainda maior.

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 “O número [de 82% de espécies endêmicas ameaçadas] foi um susto para nós, porque usamos uma abordagem conservadora. Levamos em conta se as espécies tinham ou não floresta disponível, independentemente de ser ou não uma floresta saudável, por exemplo. Mas nem todas as espécies conseguem se manter em fragmentos degradados. É possível, portanto, que a realidade seja ainda mais preocupante”, ele disse à Agência Fapesp.

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