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7 coisas que você precisa entender sobre o Estado Islâmico

Por Redação Super
Atualizado em 21 jan 2023, 18h11 - Publicado em 8 out 2014, 17h41

Por Bruno Assis

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Desde que os Estados Unidos invadiram o Iraque, em 2003, os conflitos no Oriente Médio têm aparecido na mídia com mais frequência. Por anos, o ocidente ouviu todo tipo de relato, principalmente os mais atrozes, como invasões, terrorismo e morte de civis. Em 2014, a avalanche de notícias ruins chegou ao seu auge quando vídeos que mostram a violência explícita de um grupo radical muçulmano foram divulgados na internet.

Para entender a situação no Oriente Médio, é importante conhecer melhor o Estado Islâmico. É aqui que a gente entra. Confira sete informações básicas sobre o tema a seguir:

1. Sunitas e Xiitas

A história é antiga, do início do século VII. Quando morreu o profeta Maomé, fundador do islamismo e responsável pelo Alcorão, começou uma disputa política para ver quem ocuparia a posição de principal líder da cultura islã. Quem reivindicava o cargo era Ali, genro de Maomé. Mas o povo o achava jovem e inexperiente demais para o cargo. Quem acabou escolhido pela maioria dos muçulmanos foi Abu Bakr, que era amigo do profeta.

A discordância foi a origem de uma divisão na população islâmica. Mas, por um tempo, ficou tudo bem. Depois de Abu, outros dois líderes foram aclamados como chefes supremos e governaram em paz. Mas, em 656, o califa Uhtman foi assassinado por um grupo rebelde, o que abriu espaço para que Ali finalmente se tornasse o novo governante. Nesse ponto, a tensão entre os dois grupos já era enorme e o califa acabou morto cinco anos depois, por um opositor.

Além dessa desavença política, questões religiosas também separam os grupos. Aqueles que seguem rigidamente as antigas interpretações do Alcorão e da lei islâmica, a Sharia, são os xiitas. Eles defendem, por exemplo, que os califas só podem vir da árvore genealógica de Maomé. Apesar de serem minoria em outros lugares, são parte significativa do Iraque e do Irã, por exemplo.

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Já os sunitas, que correspondem a cerca de 90% da comunidade islâmica do mundo, divergem dos xiitas com relação ao tipo de sucessão do profeta e adotam uma fonte de conhecimento diferente: o livro de Suna. Nele são contados os grandes feitos de Maomé e, por essa natureza, os sunitas tendem a ser mais abertos às transformações. O Estado Islâmico veio do povo sunita, apesar de carregar consigo uma aura de violência que não é característica dele.

2. As guerras no Iraque

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Tudo começou quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, em 2003, sob o pretexto de combater o terrorismo. A ocupação não foi nem um pouco pacífica e o país norte-americano enfrentou uma grande resistência de diversos grupos militares iraquianos. Destes, um dos que mais se destacou foi o Jama’at al-Tawhid wal-Jihaduma, que existia desde 1999 e era liderado pelo jordaniano Abu Musab al-Zarqawi. Ele foi o responsável por comandar diversos ataques às forças de coalizão e promover as ações suicidas contra civis iraquianos. Demorou apenas um ano para que ele firmasse aliança com Osama Bin Laden, mudando o nome do grupo para Tanzim Qaidat al-Jihad fi Bilad al-Rafidayn, ou, como é mais conhecido, Al Qaeda no Iraque.

Nos dois anos seguintes, o grupo se fundiu com outros menores e buscou evitar os erros cometidos pela facção principal da Al Qaeda. Isso foi em 2006, pouco antes do líder al-Zarqawi ser morto por um ataque aéreo promovido pelos Estados Unidos, em junho. Esse fato trouxe Abu Omar al-Baghdadi para o poder e, em outubro do mesmo ano, o grupo passou a se autointitular Estado Islâmico do Iraque (EII), cujo principal objetivo era estabelecer um estado islâmico nas áreas majoritariamente sunitas do país.

No fim da década de 2000, a imagem do EII foi severamente abalada por conta da violência gratuita contra a população iraquiana, que deixou de apoiá-lo massivamente. A reorganização começou a ser feita em 2010, quando os líderes Abu Omar al-Baghdadi e Abu Ayyub al-Masri foram assassinados por ações dos Estados Unidos, dando espaço ao atual líder: Abu Bakr al-Baghdadi.

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Após a saída das tropas dos Estados Unidos do Iraque, no final de 2011, quem ficou responsável pela reestruturação do país foi um grupo xiita. Apesar da elaboração de uma nova constituição e da transformação do Iraque em uma república parlamentarista, os ataques na região continuaram. Comandados por diversos grupos contrários ao governo pró-ocidente, entre eles o Estado Islâmico do Iraque, os bombardeios voltaram a ser rotina. Desde então, o EII seguiu avançando territorialmente no norte do país, sob os olhares atentos dos Estados Unidos, que só observavam tudo de longe.

3. O líder Abu Bakr al-Baghdadi

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Apesar de Abu Bakr al-Baghdadi comandar o EI desde 2010, há poucas informações disponíveis sobre sua vida. Boa parte do que se sabe veio de blogs jihadistas. Em 2013, eles publicaram informações sobre o doutorado que o califa possui em estudos islâmicos, pela Universidade Islâmica de Bagdá.

Nascido em 1971, próximo à cidade de Samarra, ao norte de Bagdá, al-Baghdadi teria formado grupos militares nas províncias de Salaheddin e Diyala antes de entrar para a Al-Qaeda. Em 2006, foi preso em Camp Bucca, prisão estadunidense ao sudoeste do Iraque, de onde foi liberado em 2009.

Pouco se sabe sobre sua personalidade, mas desde que o Estado Islâmico foi criado, ele prefere ser chamado de al-Khalifah Ibrahim. Em outubro de 2011, o Departamento de Estado dos Estados Unidos declarou que al-Baghadadi era um terrorista global e ofereceu um prêmio de 10 milhões de dólares para quem tiver informações que levem à sua prisão ou morte.

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4. Guerra Civil Síria

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Quando a Primavera Árabe floresceu no Oriente Médio, a Síria também teve sua parcela de revoltas internas. O país, governado pelo partido Baath desde 1963 e pelo presidente Bashar al-Assad desde 2000, enfrentava sérias restrições econômicas, índices de desemprego na casa dos 25% e a degradação constante dos direitos humanos. Então, entre janeiro e março de 2011, os grandes protestos da população contra o governo começaram.

O presidente al-Assad não considerou as manifestações legítimas, declarando que elas eram feitas por terroristas, e as reprimiu com intensidade. Segundo o Observatório de Direitos Humanos, cerca de 73 mil pessoas foram mortas no conflito só em 2013, sendo que 22 mil delas eram civis. E o que era apenas um conflito político, tornou-se também um conflito religioso por conta das divergências existentes entre os diversos grupos que vivem no país.

O Estado Islâmico entra nessa história porque, desde que al-Baghdadi tomou o controle do grupo, em 2010, eles cruzaram a fronteira síria. Com os confrontos contra o poder local, o EI enviou diversos militares para combatar al-Assad e garantir a formação da Jabhat al-Nusra, o braço deles na Síria. Esse grupo foi o responsável por vários ataques a cidades sírias, especialmente no norte do país. Em 2013, a Jabhat al-Nusra se uniu com o Estado Islâmico do Iraque, formando o chamado Estado Islâmico do Iraque e Síria (EIIS ou ISIS, em inglês).

5. O califado

No dia 29 de junho de 2014, o EIIS anunciou a criação de um califado nas terras dominadas por ele no Iraque e Síria. Com isso, o califa al-Baghdadi se autodeclarou como autoridade para os cerca de 1,5 bilhão de muçulmanos existentes no mundo. Nesse mesmo período, devido a conflitos internos com o líder do braço sírio, o EIIS se separou e passou a ser chamado apenas de Estado Islâmico (EI).

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O califado nada mais é do que uma forma de governo em que o governante é considerado o sucessor do profeta Maomé, seja geneticamente (como pregam os xiitas) ou escolhido pelo povo (a ideia dos sunitas), e que reúna em si toda a fé islâmica sem limites geográficos. Tipo um governo universal mesmo. Os autores divergem quanto à última vez em que um califado tenha funcionado. Alguns dizem que foi durante os quatro primeiros governos da sociedade islâmica e que durou apenas 30 anos, ainda no século VII. Outros relatam diversas outras tentativas ao longo da história, inclusive o califado Ahmadiyya, que seria uma organização global que estaria em funcionamento desde 1908.

Os califados também possuem um caráter expansionista e não reconhecem fronteiras políticas. O Estado Islâmico, por exemplo, vem realizando ataques sucessivos a diversas cidades sírias e iraquianas, aumentando sua extensão territorial. Desde o início de 2014, por exemplo, cidades como Mosul, Tikrit e Deir Ezzor foram tomadas. De acordo com o serviço de inteligência dos Estados Unidos, estima-se que o EI seja composto por mais de 31,5 mil pessoas, sendo 15 mil estrangeiros de 80 países, muitos deles veteranos de guerras anteriores, o que contribui com a organização militar do grupo.

6. A violência

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Em agosto de 2014, o Estado Islâmico divulgou um vídeo que mostra a decapitação do jornalista britânico James Foley, desaparecido na Síria desde 2012. Menos de um mês depois, outro vídeo foi divulgado e a morte de mais um jornalista, Steven Sotloff, foi confirmada. O terceiro vídeo que foi parar na internet mostrava o assassinato do humanista britânico David Haines.

Os casos chocaram o mundo. Em grande parte porque tratava-se da execução de pessoas ocidentais, não-muçulmanas. Mas a verdade é que a violência do Estado Islâmico não é um caso isolado. Apesar de ser sunita, o grupo é mais radical em suas posições do que a maioria da população islâmica e tem causado controvérsias por isso. Em julho, por exemplo, o grupo destruiu a Tumba de Jonas, local sagrado tanto para o Islã, quanto para católicos e judeus. Na invasão do campo de gás de Shaer, 270 pessoas foram mortas. Em maio de 2014, 140 jovens curdos foram raptados para terem lições sobre o radicalismo islâmico. Isso sem falar nos vários ataques a civis feitos ao longo dos anos, sem confirmação do número de mortos.

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Aliás, declarar a fundação de um califado é, acima de tudo, uma forma de mostrar a superioridade do Estado Islâmico frente aos outros grupos islâmicos existentes. Na Síria, um dos principais conflitos atuais é contra o governo de Assad. No Iraque, eles lutam no oeste do país, na província de Anbar. No caminho desses dois países, não faltam relatos de execuções em massa. Contribui para isso o poder de fogo que o EI possui e a organização militar, muito maior do que o de seus adversários locais.

7. Reação internacional

Em agosto de 2014, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou uma intervenção na região pela primeira vez desde 2011, quando as tropas saíram do Iraque. Em setembro, o discurso endureceu e Obama disse que os Estados Unidos liderariam uma coalizão contra EI. “O ‘Estado Islâmico’ não é islâmico, pois mata e aterroriza, e também não é um Estado”, disse.

As críticas feitas pela população norte-americana a respeito da guerra ao terror durante o governo Bush ajudam a explicar a demora em Obama se manifestar. Mas, diante dos vídeos divulgados pelo EI e da pressão popular, o governo não pode deixar de se manifestar. Mas com cuidado. O presidente garantiu que não enviaria tropas para a Síria, apenas esforços aéreos para ajudar os combatentes locais.

A posição dos Estados Unidos reflete um pouco a situação do mundo com relação ao Estado Islâmico. Alguns países da região tentaram interferir na situação através do apoio a tropas locais, mas não adiantou muito. Apesar de a ONU já considerar o EI como uma organização terrorista desde 2004, outros países-chave para o conflito demoraram a se manifestar ou ainda não o fizeram. A Turquia só quebrou o silêncio em outubro de 2013. A Arábia Saudita, em março de 2014, e o Reino Unido, em junho do mesmo ano.

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