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Homo sapiens é 100 mil anos mais velho do que se imaginava

Fósseis de seres humanos com 300 mil anos foram encontrados em Marrocos, longe do que hoje é considerado o local de "nascimento" do Homo Sapiens, na Etiópia

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
8 jun 2017, 15h51

Você já sabe o refrão: há cerca de 200 mil anos, uma espécie que atende pelo nome científico Homo sapiens surgiu no leste da África, onde hoje ficam Etiópia ou Somália. Ela evoluiu de outro hominídeo, provavelmente o Homo erectus – que já ficava em pé, era bom com ferramentas e conhecia o fogo.  

Acontece que ninguém sabe se foi mesmo o H. erectus que deu origem a nós – há outro candidato forte, o Homo ergaster. E mesmo que conseguíssemos provas suficientes a favor de um ou de outro, a transformação de qualquer um deles no ser humano contemporâneo não foi um processo tão simples: são várias etapas intermediárias e mudanças sutis, que levam milhares de anos cada uma.

Prova disso é que ossos e ferramentas de um Homo sapiens de 300 mil anos – 100 mil a mais que a versão mais aceita – foram encontrados em mina abandonada a 100 km de Marrakech, ponto turístico de Marrocos – localizado a mais de 5,5 mil km do berço etíope preferido pelos livros didáticos.

A descoberta foi anunciada ontem na Nature, em uma dupla de artigos científicos, mas é resultado de anos de investigação. “Isso nos dá uma noção completamente diferente da evolução da nossa espécie”, afirmou ao jornal britânico The Guardian o arqueólogo Jean-Jacques Hublin, responsável pela pesquisa. “Ela surgiu muito antes do esperado e, pelo jeito, já estava presente em toda a África há 300 mil anos. Se houve um Jardim do Éden, então ele foi do tamanho do continente.”

O sítio arqueológico de Jebel Irhoud, descoberto após o desabamento de uma caverna na antigo local de mineração, já havia revelado seus primeiros primeiros fósseis polêmicos na década de 1960, quando foram encontrados restos atribuídos a Neandertais de 40 mil anos. O novo round de escavações, sob comando de Hublin, encontrou pedaços de crânio, uma mandíbula, dentes e membros pertencentes a três adultos, um adolescente e uma criança.  

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Eles tinham anatomia muito semelhante à dos seres humanos atuais – apenas o crânio, um pouco mais longo, denunciava a idade –, e estavam acompanhados de ferramentas de pedra bem afiadas, ossos de animais de caça e pedaços de carvão, prováveis restos de uma fogueira. Nas palavras dos pesquisadores, eram musculosos e já tinham rostos familiares, de pessoas que hoje poderíamos encontrar no metrô.

Ficou estabelecido que as ferramentas têm algo entre 280 e 350 mil anos de idade, e os dentes, 290 mil. Os utensílios perderam o corte e foram afiados diversas vezes em pequenos intervalos de tempo, e a matéria-prima utilizada para fabricá-los bate com a composição das rochas de um local distante 50 km do sítio arqueológico – sinal de que aqueles seres humanos, por motivos desconhecidos, morreram longe de casa, sem nada além do que trouxeram ‘nos bolsos’ para garantir sua sobrevivência.

Apesar da animação, vários pesquisadores, associados ou não à descoberta, pediram cuidado: a amostra é limitada do ponto de vista geográfico. Mesmo que fique provado que o ser humano atual na verdade não surgiu na Etiópia, ainda é cedo demais para afirmar onde ele realmente surgiu, e qual parcela do continente africano ele dominou em cada época.

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Muitos hominídeos com diferentes graus de proximidade do ser humano podem ter convivido e se cruzado em uma janela que vai até 30 mil anos atrás. Com a escassez de fósseis do gênero Homo (problema que arqueólogos já estão dando um jeito de driblar tirando DNA antigo do chão, em vez dos ossos), fica difícil saber com exatidão quando e como esses encontros ocorreram.

“É melhor não avaliar nada pelo grande impacto que essas descobertas causam quando são anunciadas”, afirmou John Shea, arqueólogo de Nova York consultado pelo The Guardian, “mas esperar alguns anos para ver como as ondas desse impacto mudaram o contorno da praia”.

 

 

 

 

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