Como nasceram os Jogos Paralímpicos?
Entenda como uma técnica terapêutica para soldados se tornou um dos maiores eventos esportivos mundiais. A edição de Paris começa nesta quarta (28).
Os Jogos Paralímpicos, como conhecemos hoje, não começaram como uma grande competição mundial de diversos esportes. Na verdade, a trajetória deste evento remonta ao período pós-Segunda Guerra Mundial, em um hospital inglês que recebia e tratava de soldados lesionados pelo confronto. O que começou com uma competição modesta entre alguns pacientes veio a se tornar um dos maiores símbolos de inclusão do mundo.
Naquele tempo depois da guerra, os militares feridos – muitos com lesões na coluna que os deixaram paralisados – eram encaminhados ao hospital Stoke Mandeville, no interior da Inglaterra, para tratamento. A perspectiva de vida para essas pessoas era de apenas dois anos, e o tempo de recuperação e terapia era marcado por longos períodos de inatividade.
No entanto, essa realidade começou a mudar quando o neurologista Sir Ludwig Guttmann assumiu a responsabilidade pelo cuidado desses pacientes.
Médico e diretor do centro nacional britânico de traumatismos, Guttmann não concordava com a inatividade dos pacientes, por isso introduziu uma abordagem revolucionária: o cuidado ativo por meio do artesanato e, principalmente, dos esportes.
Ele acreditava que a prática esportiva não apenas ajudaria no condicionamento físico, mas também restauraria a dignidade e a autoestima daquelas pessoas. No dia 29 de julho de 1948, um grupo de 14 homens e duas mulheres fizeram uma prova de tiro com arco, dentro do próprio hospital. Assim nasceram as primeiras competições em cadeira de rodas, e os 16 participantes viriam a se tornar os primeiros atletas paralímpicos.
O impacto foi imediato e transformador. A britânica Caz Walton, uma das primeiras medalhistas paralímpicas, deu seu depoimento ao Comitê Paralímpico Internacional e, ao recordar de Sir Ludwig, disse: “Ele me deu tanta confiança. Foi quando soube que era igual a qualquer outra pessoa”.
Essas competições continuaram a crescer, tornando-se eventos anuais no hospital. Para Guttmann, a importância dessas atividades ia além dos benefícios físicos e psicológicos. “O mais importante é a reintegração social dos paralisados na sociedade”, falou o médico na época.
Em 1952, o Stoke realizou seu primeiro evento esportivo internacional: um pequeno time holandês se juntou aos britânicos para competir nos jogos do hospital. A evolução natural desse movimento culminou na realização dos primeiros Jogos Paralímpicos oficiais em 1960, em Roma, logo após as Olimpíadas (que também rolaram na capital italiana).
Naquela ocasião, 400 atletas de 23 países competiram em oito modalidades. Desde então, as Paralímpiadas passaram a ser realizadas seguindo o mesmo ciclo das Olimpíadas, a cada quatro anos.
O crescimento do movimento paralímpico foi acompanhado pela inclusão de atletas com diferentes tipos de deficiência. Em 1964, foi criada a Organização Internacional de Esportes para Deficientes (ISOD), que ofereceu oportunidades para atletas que não podiam se filiar aos Jogos Stoke Mandeville, como deficientes visuais, amputados e pessoas com paralisia cerebral. Gradualmente, novas organizações esportivas internacionais surgiram, promovendo a coordenação entre as diferentes modalidades e necessidades.
Finalmente, em 1989, o Comitê Paralímpico Internacional nasceu em Düsseldorf, na Alemanha, consolidando o movimento paralímpico global.
Paris 2024
Em 2024, Paris recebe as Paralimpíadas, com a participação de 4.400 atletas de 184 países, competindo em 22 esportes e 549 eventos, destacando-se como uma das edições mais inclusivas e diversificadas da história. Uma das grandes novidades são as medalhas, que terão inscrições em braille.
A cerimônia de abertura ocorre na quarta-feira, dia 28 de agosto, às 15 horas. Os jogos começam na quinta (29). Há grandes expectativas sobre o desempenho do Comitê Paralímpico Brasileiro, que nas últimas edições se consolidou como uma potência no cenário esportivo paralímpico mundial (em Tóquio, por exemplo, terminamos em sétimo lugar no quadro geral de medalhas, o melhor desempenho da história do país).